sábado, 12 de junho de 2010

De poetas e poetas

(...) mas o amor não está mais na moda, os poetas o mataram. Escreveram tanto a respeito dele que ninguém mais acredita em suas palavras, o que não me surpreende. O amor verdadeiro sofre e se cala. (...) 
(Oscar Wilde; "O Foguete Notável", 1888) 

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Pior que um palhaço triste é o poeta que ri. Ri porque aprendeu a jogar o jogo das sombras; deixou de ser consumido pelo sarcasmo para consumi-lo e a si mesmo. Um poeta risonho dança enquanto se destrói, já que não tem mais crenças a perder.
Ele dança por nem ter mais o real benefício do escapismo - escreve sobre a maldita realidade à qual está preso por excesso de sanidade.
Portanto, dança enquanto definha naturalmente. E é natural que o poeta definhe de forma mais rápida que os outros, pela intensidade com que trata seus sentimentos, suas descobertas, suas emoções. Prefere levar um tiro a ter de ouvir certas palavras. 
Conhece todas as dissimulações - ele mesmo as usa - por causa daquilo em que acreditou - ou em que acreditou crer. Viu, veio e sofreu. Agora sabe que não, não é mais fácil admitir seus desejos, porque não é assim que a ditadura da conveniência funciona. Pensa em como é desesperador não haver descanso após a morte. Tão desesperador quanto a ideia de um julgamento pós-vida ou da possibilidade de nunca poder escapar dela, mas revivê-la em ciclos. Essas coisas tornam o suicídio tão inútil quanto o estar aqui.
O poeta que ri, diante do mundo, provavelmente não deve estar alegre; mas ri porque absorveu a ironia do amor próprio em nome da própria desgraça.

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