quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Familiar demais.

Transtorno de Personalidade Limítrofe (TPL), também muito conhecido comoTranstorno de Personalidade Borderline (TPB) ou Transtorno estado-limite da personalidade é definido como um grave transtorno de personalidade caracterizado por desregulação emocional, raciocínio “8 ou 80” (“branco e preto”, totalmente bom ou totalmente mau) extremo e relações caóticas. Pessoas com personalidade limítrofe podem possuir uma série de sintomas de transtornos psiquiátricos diversos, tais como ataques súbitos de ansiedade, humor instável, tal como grande sentimento de entusiasmo para depois sentir um grande vazio ou dissociação mental, assim como despersonalização. Com tendência a um comportamento briguento, também é acompanhado por impulsividade muitas vezes autodestrutiva, manipulação e chantagem, conduta suicida, bem como sentimentos crônicos de vazio e tédio. A raiva é caracteristicamente a única emoção verdadeira ou a principal emoção central do borderline; muitas vezes, esses indivíduos são vistos como "rebeldes" e “problemáticos”. O limítrofe é frequentemente confundido com depressão ou transtorno afetivo bipolar. O transtorno de personalidade borderline e o transtorno de personalidade antissocial (psicopatia), juntos, são considerados os dois mais graves distúrbios de personalidade.

A característica principal do Transtorno de Personalidade Borderline traduz-se num padrão de comportamento intenso mas extremamente confuso e desorganizado. Aqueles que sofrem do transtorno de Personalidade Borderline são indivíduos que afastam aqueles de quem mais precisam. Paradoxalmente, ao mesmo tempo em que precisam do afeto e da companhia dessas pessoas, são capazes de afastá-las de forma cruel e, muitas vezes, assustadora. São muito exigentes de atenção e são excessivamente manipuladoras, embora nunca o admitam. Borderlines têm profundos traços de masoquismo e sadismo e, de forma geral, são como crianças em um corpo de adulto, não tolerando quaisquer limites. Muito imaturos emocionalmente, são impacientes, não sabem esperar, suas recompensas devem ser sempre imediatas, não toleram frustrações e tendem a colocar a culpa sempre em outros por suas próprias falhas.

Limítrofes são pessoas que passam seu tempo a tentar controlar mais ou menos emoções que elas não controlam realmente. São pessoas que, diga-se de passagem, têm duas vidas. Uma vida quando estão na sociedade e outra vida de comportamentos muito diferentes quando estão a sós. Sua capacidade de esconder o transtorno faz com que sejam vistos, superficialmente, como se não tivessem nada, entretanto suas vidas são sofríveis e um verdadeiro inferno. Pessoas com o transtorno oscilam entre um comportamento adulto e um comportamento infantil; entre uma conduta boa e uma conduta má.

O borderline, tipicamente, é intolerante às rejeições sentimentais. Isto quer dizer que qualquer movimento diferente da outra pessoa, percebido pelo borderline, significa que o outro não gosta mais dele, que não lhe quer mais, ou que irá abandoná-lo. Uma simples contrariedade partindo da pessoa por qual o borderline mantém um vínculo afetivo importante, é visto como um sinal de "não", frustração e abandono, mesmo que isto não seja verdade. Inclusive, o borderline costuma "ver coisas" onde, na realidade, não existem.

Para eles, é como se eles não existissem, sem uma estrutura externa. Com seu amante, podem estar em plena euforia; porém, quando este demonstra qualquer contrariedade às expectativas do borderline, facilmente passam de um humor eufórico para raivoso com manipulações e esforços excessivos para evitar serem rejeitados. Se ficarem "abandonados", do humor raivoso decaem para a depressão. Seus pensamentos e atos autodestrutivos aumentam de intensidade. Podem fazer tentativas suicidas, sentir que nada mais é real (despersonalização e desrealização), entre outros comportamentos extremos.

Borderlines sentem que estão sempre com um grande sentimento crônico de vazio. Tal sentimento constantemente os incomoda e tendem a achar sempre uma forma de preencher tal vazio, mas com frequência, descrevem que esse sentimento nunca desaparece. Borderlines sentem tudo com uma alta intensidade, sendo que para eles, tudo faz mal, tudo os agride e machuca. Não sabem se proteger, ou ao menos, acreditam não saber. Eles ainda têm sentimentos de ser uma eterna "vítima", incapaz de aceitar suas próprias responsabilidades. São pessoas que não têm uma noção clara de sua identidade. 

Alguns evitam começar relacionamentos, especialmente pelo medo de ser rejeitado ou abandonado, mais tarde. Quando em algum relacionamento íntimo, este medo é acompanhado caracteristicamente de esforços frenéticos para evitá-lo.

Tais decepções amorosas são muito intensas, dolorosas e insuportáveis em borderlines. Frequentemente sentem um intenso sentimento de vazio e um grande medo de fundir-se ou desaparecer. Entretanto, essas características típicas borderlines não são reveladas abertamente. Eles nunca admitem que sentem medo de serem rejeitados pela pessoa amada: demonstram sempre seus medos através da agressividade, raiva, ódio e manipulações.

O paciente borderline apresenta em todos os aspectos de sua vida a "difusão de identidade" que pode ser descrita como a recusa em considerar outros tempos e outras diferentes situações, dando prioridade à situação presente e atitudes imediatas.

Suas opiniões e idéias são facilmente instáveis e contraditórias. Podem dizer com convicção "sim", para em seguida, dizer "não", gostando assim de algo, para facilmente odiá-lo ou vice-versa. Isso também acontece em relação à carreira profissional e sua orientação sexual. Estão constantemente mudando em relação ao que pensam e fazem, e o que irão exercer profissionalmente. Sua identidade sexual é frequentemente marcada por dúvidas e mudanças constantes ou até adeptos à bissexualidade. Por vezes, definem-se a si próprios como "hora uma coisa, hora outra coisa". Quando estão convictos de algo, de repente, vêem-se cercados por dúvidas contrárias novamente, por isso, a indecisão nessas pessoas é comum. Até a própria aparência física do limítrofe tende a ser instável. 

Essas pessoas têm dificuldade em avaliar as consequências de seus atos e de aprender com a experiência e, então, por isso erram e repetem o erro, nunca aprendendo. São indivíduos tão exigentes e imprevisíveis que assim tendem a afastar todos aqueles que o cercam. Além disso, são pessoas que não têm necessidade, eles têm urgência. Não sabem adiar e não aguentam esperar.

impulsividade no borderline sempre está relacionada à desesperança, falta de apoio, intensa sensação de rejeição e vazio, o que leva, no desespero, por atos impulsivos autodestrutivos.

Os critérios são:
  1. Esforços frenéticos para evitar um abandono real ou imaginado. [Não incluir comportamento suicida ou automutilante, coberto no Critério 5].
  2. Um padrão de relacionamentos interpessoais instáveis e intensos, caracterizado pela alternância entre extremos de idealização e desvalorização.
  3. Perturbação da identidade: instabilidade acentuada e resistente da auto-imagem ou do sentimento de self (si mesmo).
  4. Impulsividade em pelo menos duas áreas potencialmente prejudiciais à própria pessoa (por ex., gastos financeiros, sexo, abuso de substâncias como drogas e bebidas, direção imprudente, comer compulsivamente, roubo compulsivo e patológico, entre outros.). [Não incluir comportamento suicida ou automutilante, coberto no Critério 5].
  5. Recorrência de comportamentos, gestos ou ameaças suicidas ou de comportamento automutilante.
  6. Instabilidade afetiva devido a uma acentuada reatividade do humor (por ex, episódios de intensa disforia, irritabilidade ou ansiedade geralmente durando algumas horas e raramente mais de alguns dias).
  7. Sentimentos crônicos de vazio.
  8. Raiva inadequada e intensa ou dificuldade em controlar a raiva (por ex, demonstrações freqüentes de irritação, raiva constante, lutas corporais recorrentes).
  9. Ideação paranóide transitória (por ex, sentir-se perseguido) e relacionada ao estresse ou severos sintomas dissociativos (por ex, adespersonalização e processos amnésicos intensos).


Explicação dos critérios do DSM-IV-TR

O DSM prossegue em dizer:
Critério 1: Os portadores deste transtorno fazem esforços frenéticos para evitar um abandono real ou imaginado. Quando existe a percepção de rejeição, separação ou de perda da estrutura externa, os borderlines podem sofrer profundas mudanças na auto-imagem, cognição, afeto e no comportamento.
Critério 2: Os indivíduos com TPL têm um padrão de relacionamentos instáveis e intensos. Podem idealizar um potencial prestador de cuidados ou amante logo nos primeiros momentos, entretanto, pode ocorrer uma rápida passagem da idealização para a desvalorização, por achar que a outra pessoa não se importa o suficiente, não está "lá" o suficiente.
Os afetados pelo TPL podem sentir empatia e carinho pelos outros, porém, esses sentimentos só surgem pela expectativa de que a outra pessoa também "estará lá" para atender suas próprias necessidades, assim que exigido. Os indivíduos borderlines estão inclinados a mudanças repentinas e drásticas em suas opiniões sobre os outros, que são vistos alternadamente como salvadores bondosos ou como vilões punitivos. Tais mudanças refletem a desilusão com uma pessoa cujas qualidades foram idealizadas ou cuja rejeição ou abandono estão iminentes.
Critério 3: Pode haver uma perturbação de identidade caracterizada por uma auto-imagem ou sentimento de si mesmo persistentemente instáveis. Mudanças súbitas e drásticas na auto-imagem são observadas por objetivos, valores e aspirações profissionais em constante mudança. Borderlines podem exibir mudanças repentinas de opiniões e planos acerca da carreira, identidade sexual, valores e tipos de amigos. Além disso, podem mudar subitamente do papel de coitados e carentes de apoio para vingadores de abusos e maus tratos passados.
Mesmo que geralmente possuam uma auto-imagem de "malvados", os indivíduos com o TPL podem, algumas vezes, sentir que eles não existem de verdade. Experiências assim ocorrem, tipicamente, em períodos em que o indivíduo sente falta de um relacionamento significativo, carinho e apoio. Limítrofes podem apresentar pior desempenho em situações de trabalho ou escolares não estruturadas.
Critério 4: Borderlines são impulsivos em, pelo menos, duas áreas potencialmente prejudiciais a si próprios. Podem jogar patologicamente, fazer gastos irresponsáveis, comer em excesso (compulsão também por doces é freqüente, principalmente nas mulheres), furtar/roubar (cleptomania), abusar de drogas e/ou bebidas (ex.: álcool, café, energéticos etc.), fazer sexo inseguramente, dirigir imprudentemente e até mesmo usar algum tipo de lazer de forma excessiva e patológica (ex.: televisão, computador, exercícios físicos etc.).
Critério 5: Limítrofes exibem, de maneira recorrente, comportamento, gestos ou ameaças suicidas ou comportamento automutilante.
O suicídio completado ocorre entre 8 e 10% desses pacientes, atos de automutilação (por ex, cortes ou queimaduras) e ameaças suicidas são muito comuns. As tentativas recorrentes de suicídio são, quase sempre, a principal causa da busca de ajuda. Atos autodestrutivos são usualmente precipitados por ameaças de separação ou rejeição.
A automutilação rotineiramente acontece durante experiências dissociativas e traz alívio pela reafirmação da capacidade de sentir (e existir).
Critério 6: Os portadores do Transtorno da Personalidade Borderline podem apresentar instabilidade afetiva, seguida de uma grande reatividade do humor. Essa labilidade do humor é freqüentemente notada por mudanças bruscas do humor num só dia (por ex, disforia intensa, irritabilidade e ansiedade, que duram algumas horas e raramente mais de um(s) dia(s)). É o caso do borderline que passa do bem estar para a depressão profunda, da depressão à irritabilidade extrema e, em seguida, para a ansiedade (não necessariamente nessa ordem), sendo difícil para os borderlines, ficarem por muito tempo se sentindo totalmente bem.
O humor dos borderlines é basicamente disfórico e alterna-se com períodos de raiva, pânico ou desespero e é, raramente, aliviado por fases de bem-estar. Episódios assim refletem a intensa reatividade do portador a estresses interpessoais.
Critério 7: Limítrofes podem ser incomodados por recorrentes sentimentos de vazio. Facilmente entediados, sempre procuram algo para fazer.
Critério 8: As pessoas com este transtorno de personalidade rotineiramente expressam raiva extrema e inadequada e/ou têm dificuldade em controlar sua raiva. Borderlines podem exibir extremo sarcasmo, explosões verbais ou amargura persistente.
A raiva aparece, muitas vezes, quando um prestador de cuidados ou amante é visto como omisso ou indiferente e prestes a abandoná-lo. As expressões de raiva, na maior parte das vezes, são seguidas de vergonha e culpa e contribuem para o sentimento de ser "mau".
Critério 9: Em episódios de estresse, podem ocorrer ideações paranóides (exemplo: sentir-se enganado, perseguido, espionado) ou sintomas dissociativos severos (por ex: despersonalização), no entanto, estes sintomas são transitórios e de gravidade limitada, insuficientes para um diagnóstico adicional.
Episódios paranóicos ou dissociativos ocorrem geralmente em resposta a um abandono real ou imaginado. Os sintomas tendem a ser breves, durando minutos ou horas. O retorno real ou percebido do carinho da pessoa prestadora de cuidados ou amante pode ocasionar a remissão desses episódios.

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