domingo, 25 de julho de 2010

50 segundos

Aquele cigarro cheirava tão mal que atrapalhava seus pensamentos, mas fumaria até o fim. Quando acabasse, aí sim, pegaria a caneta e procuraria uma folha em branco para escrever. Pensou que ela nem precisaria ser em branco. Tinha muita porcaria na cabeça e acabaria se matando se não as soltasse em cima de alguém, ou de algo. Ao menos do papel não é preciso esperar uma resposta. Mas é tanta porcaria que, enquanto escreve, pensa em outras coisas e acaba se esquecendo do que estava pensando ou do que pensou agora há pouco porque já tem outra coisa na cabeça. "Saco! É tão difícil assim diminuir o fluxo?", pensou. Sente-se como um doente que não consegue relaxar nem quando fuma um cigarro ou toma um vinho bem doce. Tem uma obsessão, e obssessões são incontroláveis, afinal de contas. A todo tempo aqueles pequenos demônios vem e invadem seu cérebro! Não acredita em meditação, em esvaziar a mente... definitivamente, essa história de esvaziar a mente não existe. Fazer atividades físicas, então, é impossível quando se espera manter uma senquência; tem de parar no meio para buscar um pedaço de papel e não perder aquilo que se passa em sua mente - sobre o que gostaria de tentar desenvolver um pensamento depois, e se não o anota, jamais retomará o que pensou. Não conhece a felicidade, nem a alegria da simplicidade, porque está sempre cheio - seja lá do que for. Seria um louco sem consciência da necessidade de tratamento, de internação? Seriam todas as pessoas assim, mas, ao contrário dele, apenas sabem como lidar com isso? Ou seriam as pessoas seres não pensantes? É impossível viver feliz, sorrir nesta realidade, meu deus, será que não percebem? Agora que o cigarro acabou, vai se sentar para escrever...

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